A trama ficcional e a saúde mental dos jovens
Renata Dembogurski*
“Em um cenário distópico no qual a doença mudou a rotina da sociedade e trouxe milhões de morte, as personagens ainda precisam superar as consequências psicológicas do flagelo”. A citação acima poderia ser a sinopse de livro, mas, infelizmente, não é. A ficção científica sempre teve o poder de antecipar conceitos, prever situações e moldar opiniões, mas, dessa vez, está mais para protagonistas no auxílio à reversão.
A covid-19 faz suas vítimas não só por si. Tem deixado um rastro de diversos outros problemas e transtornos. Esgotamento irritação, insônia e tristeza também são pandêmicos e assustam pela depressão e suicídio. A Agência Brasil divulgou no início do mês uma pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) que ouviu 2 mil pessoas na cidade de São Paulo (SP) e nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador. Os resultados revelam o impacto da pandemia na saúde mental dos jovens.
A tristeza foi referida por 48% da população geral e chegou a 58% dos jovens. E, entre 18 e 24 anos, 39% dos entrevistados afirmaram que a saúde mental ficou ruim no período e 11% disseram que ficou muito ruim, num total de 50%. Enquanto, na amostra total, 5% narraram que a saúde mental está muito ruim e 25% ruim, totalizando 30%. A pesquisa ainda mostrou que entre os jovens de 18 a 24 anos, 53% têm irritação e 45% sofrem de insônia.
O evidente efeito entre os jovens traz à tona a vulnerabilidade em que se encontram, porém, a solução pode estar justamente na ficção. O afastamento saudável da realidade vindo da literatura pode contribuir com o retrocesso do quadro. Ao imergir em uma trama ficcional, o leitor tem a oportunidade de isolar-se da realidade e dar abertura para o alívio. A pausa oferecida pelo livro, além de ser um estímulo diferente, pode ajudar no descanso que a mente precisa para recuperação.
O desafio é encontrar títulos que gerem afinidade e quebrem a resistência e a inércia, como a obra Virkadaz, lançamento da editora Inverso. Nesse aspecto, os livros jovens adultos são ótimas opções, pois trazem uma linguagem dinâmica e tramas imaginativas que atraem o leitor. A leitura descomplicada desse gênero proporciona uma experiência despregada da realidade que permite relaxar e dar novo ânimo à rotina.
*Renata Dembogurski nasceu em Foz do Iguaçu/PR e divide residência entre a cidade natal e Curitiba/PR. Escritora, ghostwriter, diretora de redação publicitária e roteirista. Com várias obras premiadas, em 2021 foi finalista do Prêmio Off Flip de Literatura. É autora do livro de ficção científica Virkadaz, pela editora Inverso.
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