Transporte brasileiro sofre com concorrĂȘncia desleal e sonegação fiscal
No momento em que a nação mais discute a Ă©tica e o fim da corrupção, setor que Ă© responsĂĄvel por 6% do PIB do paĂs Ă© diretamente impactado pelo “jeitinho brasileiro”
O transporte rodoviårio, o verdadeiro motor do Brasil, é um dos segmentos mais afetados pela corrupção nos setores privados. E a sonegação fiscal, bem como a pouca assertividade nas formas de cobrança e fiscalização sobre os impostos, são os principais fatores que contribuem para esta realidade.
Atualmente, existem no paĂs cerca de 160 mil Empresas de Transporte de Cargas (ETC) que, juntas, somam uma frota de 1,6 milhĂŁo de caminhĂ”es, de acordo com dados da Associação Nacional de Transporte de Cargas. Assim, com uma mĂ©dia baixĂssima de 10 caminhĂ”es por empresa, nĂŁo acontece no paĂs um giro de lucro, impedido pela falta de escala. Especialmente porque grande parte dessas empresas encontra uma forma de maquiar seus rendimentos e pagar uma porcentagem irrisĂłria dos impostos devidos.
“A fĂłrmula ideal para o transporte brasileiro seria reduzir as empresas de transporte para um nĂșmero de cerca de 30 mil, apenas. Assim, a taxa de veĂculos por empresas seria de cerca de 53, o que gera uma escala que facilita o controle dos fretes e dos pagamentos de tributos sobre eles”, explica o empresĂĄrio Markenson Marques, presidente da Cargolift. “Em um momento delicado em que o governo precisa arrecadar recursos para fazer a roda girar, os governantes deveriam pensar em soluçÔes que façam com que os impostos devidos sejam pagos, ao invĂ©s de aumentar as taxas de quem jĂĄ declara e paga seus impostos com honestidade”, opina.
Segundo ele, o sistema que atualmente Ă© utilizado pela Associação Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para uma espĂ©cie de acompanhamento sobre os fretes realizados pelas empresas Ă© o Controle de Informação das OperaçÔes de Transporte (Ciot). No entanto, muitas empresas nĂŁo registram a totalidade dos fretes realizados – a ocultação de rendimentos nesse sentido pode chegar a 70% – o que impede um acompanhamento adequado e fiel por parte da ANTT. “NĂłs nĂŁo podemos deixar que um setor que faz a economia do paĂs girar seja sustentado por empresas que sĂŁo desleais com seus concorrentes e com seus prĂłprios funcionĂĄrios. A Cargolift tomou a decisĂŁo de processar judicialmente concorrentes desleais que praticam sonegação de impostos. Somos nĂłs empresĂĄrios que temos que mudar o Brasil”, contesta o presidente da Cargolift.
Governo, clientes e sindicatos incentivam a corrupção
TĂŁo grave quanto os atos de irresponsabilidade fiscal, Ă© contribuir ou incentivar prĂĄticas como estas. E tal incentivo pode vir tanto das instĂąncias governamentais, quanto das privadas. IndĂșstrias, que recebem inclusive incentivo fiscal do governo para instalarem-se no Brasil, contratam transportadoras que nĂŁo cumprem as exigĂȘncias legais, sonegam impostos, fogem das obrigaçÔes juntos aos trabalhadores, que muitas vezes sĂł descobrem que nĂŁo tĂȘm FGTS a receber, por exemplo, quando sĂŁo demitidos apĂłs trabalharem por longos anos – porque o empresĂĄrio nĂŁo depositou mensalmente.
“Em um segmento grande como o do transporte, com cerca de 160 mil empresas em todo o Brasil, temos oito em cada dez delas praticando algum tipo de sonegação de imposto. Isso Ă© um absurdo. Espera-se do governo maior fiscalização para administrar uma ĂĄrea que Ă© tĂŁo significativa, jĂĄ que representa 6% do PIB nacional”, critica o empresĂĄrio.
Sindicatos de trabalhadores que incluem em acordos coletivos um valor fixo de PLR a pagar por funcionĂĄrios tambĂ©m sĂŁo coniventes com a corrupção. “Para diminuir o PLR, empresĂĄrios ocultam dados dos balanços de lucro das empresas, fazendo o famoso caixa 2, visando reduzir os gastos com a participação nos lucros. Ao incentivar e obrigar o empresĂĄrio a fixar um valor nessa participação, os sindicatos de certa forma incentivam o empresĂĄrio a esconder as informaçÔes”, opina.
AlĂ©m disso, ele tambĂ©m aponta o papel dos governantes. “O prĂłprio governo federal estimula a sonegação quando permite que uma empresa de transporte pague Imposto de Renda pelo Lucro Real e outra pelo Presumido. Quem opta pelo Lucro Presumido nĂŁo exige nota fiscal de seus fornecedores, para pagar menos se utilizando do caixa dois. Sou favorĂĄvel ao fim da tributação de IR pelo Lucro Presumido e Ă vinculação nos Acordos Coletivos com os trabalhadores da liberdade de estes auditarem os balanços das empresas para validarem o cĂĄlculo da Participação nos Lucros dos funcionĂĄrios. O governo federal teria auditoria nas empresas feita pelos trabalhadores, com vantagem para os empresĂĄrios honestos que nĂŁo tĂȘm nada a esconder”, declara Markenson Marques, que, em 2014, foi escolhido para representar no Brasil a campanha Corajosamente Ăticos.
Disseminando ética
Incomodado com a magnitude destas prĂĄticas no Brasil e pela deslealdade na concorrĂȘncia entre empresas do mesmo setor, Markenson Marques aceitou o convite e hoje realiza, junto com outros empresĂĄrios, atividades da campanha Corajosamente Ăticos. Ela foi criada na Ăfrica do Sul (onde se chama “Unashamedly Ethical”), pelo executivoGraham Power, empresĂĄrio que entendia que a marĂ© de corrupção e comportamento antiĂ©tico nas instituiçÔes e sociedades sĂł poderia ser desfeita com uma oposição ativa e uma mobilização de apoio pĂșblico Ă Ă©tica, aos valores e a uma vida honrada.
Com o objetivo de espalhar essa filosofia por todos os paĂses do mundo, Corajosamente Ăticos busca desenvolver lideranças responsĂĄveis e combater prĂĄticas desprovidas de Ă©tica nos ambientes corporativos e instituiçÔes. O movimento incentiva a fazer o que Ă© certo e nĂŁo deixar a atitude correta para depois e para o prĂłximo, disseminando uma cultura de boa conduta profissional entre o maior nĂșmero de pessoas possĂvel, cada um atuando dentro do seu setor.
Saiba mais sobre o Corajosamente Ăticos: www.corajosamenteeticos.com.br
Serviço:
Corajosamente Ăticos
Cargolift
Rua Arthur Martins Franco, 880 - Cidade Industrial
Curitiba, ParanĂĄ – Brasil
Fone: +55 (41) 2106.0700