O design-marcenaria de Ricardo Graham Ferreira

 


Livro sobre expoente de geração contemporânea que une marcenaria e design apresenta sua produção, seu processo, suas ideias e sua oficina na serra fluminense.

A dinâmica cena do design brasileiro tem um destaque em evidência nos últimos anos: a auto-produção em madeira, de designers que desenvolvem e produzem artesanalmente suas criações em oficinas próprias. O livro Ricardo Graham Ferreira, o ebanista aborda de maneira íntima o trabalho de um dos expoentes dessa geração, instigando o leitor a criar sua própria interpretação formal e afetiva através de um conjunto de registros e depoimentos de pessoas que fazem parte de sua vida. Mais do que guiar cronologicamente ou pela técnica, a intenção é deixar o olhar se perder, descobrir aquilo que lhe atrai, emociona. Por isso mesmo, foi fundamental que cada peça fosse apresentada em seu contexto de criação – a oficina, para que a narrativa se estenda entre obra e entorno; entre inspiração e resultado. Um reflexo da simbiose entre corpo e matéria-prima, a conjunção de vidas e ciclos distintos num objeto que perdure.

 

A publicação bilingue é uma parceria da Precious Woods, madeireira suíça cuja operação na Amazônia é referência de manejo sustentável, com a Editora Olhares, que acumula amplo catálogo sobre o design brasileiro. Com texto de apresentação e entrevista conduzidos pelo curador Bruno Simões, conta também com comentários do próprio designer além contribuições do colega de ofício, Fernando Mendes, de Stephane Glannaz, diretor da Precious Woods, e de Maria Eduarda Carneiro da Cunha, organizadora do livro e parceira de vida e de empreitada de Ricardo.

 

O livro será lançado no dia 24/09 na Gozto, galeria de design no Rio de Janeiro. Em seguida, terá lançamento também na Semana Criativa de Design, em Tiradentes, no dia 22/10.

 

“Em seu trabalho, a prioridade não é a escala, mas a qualidade do que é realizado de acordo com as regras da arte da marcenaria, qualquer que seja o nível de dificuldade. (...) A precisão das obras de Ricardo vem desse olhar e dessa comunhão, que faz com que cada uma delas exale uma verdade que ressoa de forma particularmente forte neste mundo cada vez mais sem sentido. Esse envolvimento profundo é certamente o elemento que mais nos chamou a atenção e, portanto, a origem de nossa colaboração”

Stephane Glannaz

 

“Ricardo se aventura em soluções criativas nas estruturas de suas peças sem renunciar ao conhecimento tradicional da marcenaria. A integração entre imaginação e saberes resulta em móveis expressivos na sua contemporaneidade e antecede tempos futuros que transformarão suas criações em clássicos do design brasileiro.”

Fernando Mendes

 

“Não é tarefa fácil encontrar o equilíbrio entre o trabalho de criação e a produção artesanal, diretamente conectados com o tempo da natureza, e a realidade financeira do sistema que vivemos. (...) Buscamos o equilíbrio sem ferir o que definimos como nossos principais ativos: o amor e tempo.”

Maria Eduarda Carneiro da Cunha

 

“Faz muito sentido a ênfase no termo “o ebanista” dada por Ricardo em sua marca. Trata-se simbolicamente de um ponto de convergência entre duas culturas, dois momentos; uma maneira histórica de afirmar que há em seu desenho uma assinatura reconhecível, um olhar delicado e atento que resgata e valoriza técnicas tradicionais aprendidas fora, enquanto persegue o traço curvo (e leve) do ideal moderno para exaltar a rica diversidade de madeiras nativas com que trabalha: roxinho, muirapiranga, muiracatiara, cumaru, cedro, sucupira vermelha, ipê, freijó, peroba mica e peroba do campo, obtidas tanto de manejos florestais certificados como de estruturas de antigas construções garimpadas pelo Brasil.

 

Ao fim, essa busca pela matéria-prima fundamenta todo o processo e se torna tão importante quanto a obra em si. Ricardo Graham Ferreira se insere numa geração de marceneiros brasileiros que encontrou na escassez um profundo respeito pelas madeiras nobres; aplicam uma atenção redobrada para que crimes do passado não se repitam, como no famigerado caso do jacarandá-da-baía; e fomentam tais desafios como uma oportunidade de investigar novas espécies e suas propriedades (como tom, cheiro e densidade) para imprimir um novo modelo estético e educar nosso olhar para a riqueza que nos cerca. A diversidade a partir da adversidade para interromper o ciclo de irresponsabilidade de consumo, os vícios de linguagem saudosistas, e propor ao ofício uma nova relevância.”

Bruno Simões


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